No Buraco Inédito, há Sombras e Medos de um Professor

06/09/2021

Nunca houve na história, uma época em que tentou substituir o professor pela TV na sala de aula, como também nunca houve na história, pais e professores que muito fizeram para utilizar fitas de vídeos para contar histórias infantis. Um progresso tão animado para a educação, ou talvez uma ilusão do homem, nada poderá substituir o professor na sua missão de ensinar, esquecer-se de que é o elo afetivo que cria o Contar a história e que faz muita diferença. Só o professor transmite este afeto.

Quando abro a minha cortina esfarrapada, vejo a sombra da crise que se estende pelo mundo, um buraco inédito preste a engolir toda humidade, um medo que afeta todas minhas ideias como professor, afeta o meu trabalho, o lazer, toda estrutura da educação ficou abalada. Generalizando, são fábricas fechadas, escritórios vazios, milhões de professores desempregados, dias de fome, cidades decadentes, hospitais superlotados, explosões de violência, discursos fátuos, revoltas populares, medos, esperanças, promessas, cominações, manipulações, repressões, policiais nervosos, computadores perturbados, puxo a cortina e fecho de tanto medo, são tantas imagens que eu pensava terem-se ido para sempre, levados pelo vento do capitalismo pós- industrial. No momento que escrevo este texto neste quarto não rebocado nem pintado, ainda é cedo para estimar o futuro da escola e da educação. Mas como quer que seja, acredito que o sistema nacional da educação nunca mais será o mesmo em todo mundo.

Neste momento é terrivelmente utópico afirmar que primeiro cuidamos da vida das pessoas depois da educação! Se a saúde das pessoas se desintegrar, é óbvio que a educação das pessoas se desintegrara junto. Como também é utópico predizer que a gente tem que cuidar da educação primeiro senão vai ser pior para o futuro da humanidade. Se a educação se desintegrar, a saúde desintegrara junto.

As medidas a serem tomadas são simultâneas no campo da saúde, da educação e da economia. Não só para salvar vidas humanas, como para garantir menor desorganização na nossa escola. Como professor de filosofia e história, eu podia pensar muito e dizer muito também, dizem eles que esses professores falam muito! Engano, eu estou com medo sim! Medo de acordar dia seguinte e não ter quem ensinar, porque todas crianças terão morrido de COVID-19 na escola, o medo da minha profissão ser substituído pelas aulas de telescola ou Google classroom, medo da superexploração de mão-de-obra docente, o medo de desemprego eterno. Quando abro as duas janelas do quarto, vejo uma luz de esperança, uma luz que diz que é possível sairmos juntos deste buraco inédito onde estamos. Quando um país constrói um novo dialogo e um novo consenso entre professores e estudantes, entre o Ministério da Educação e a Comunidade, entre Escola e os pais de encarregado da educação, podemos sim redescobrir nesta tragédia, nossas potencialidades como professores, nosso senso de ensino comunitário, nossa adaptabilidade, criatividade e resiliência a crises.

Eu ando a pensar e sempre partilho isso com colegas; que só o diálogo e a Acão conjugada dos cidadãos comuns, dos professores, do Estado e do ensino privado podem superar tanto a pandemia quanto a longa crise e nova metamorfose do sector da educação.

Apesar das sombras e dos medos que me atormentam, neste holocausto de lamentações de um professor desempregado, vejo sempre muitas ventãs de esperanças, vejo um futuro gigantesco da escola, uma nova escola, um modelo diferente de sala de aula, uma escola igual a de SUMMERHILL, onde as crianças não são mais obrigados a ir as aulas, podem deixar de assistir as aulas se assim o quiserem. Contudo crianças dessa escola, APRENDEM! As crianças nessa escola são patroas de si mesmo. Eu desejo daqui em diante, que os pais e professores acompanhem a tecnologia, e que a mesma tecnologia sirva de instrumento didático e nunca com a intenção de substitui-los. Nosso desafio será de acompanhar o desenvolvimento tecnológico sem esquecer que temos em mãos seres humanos em formação. Que encontremos no meio deste buraco inédito, uma educação mais humanista, voltada para o ser humano em suas características de um ser dotado de corpo, espírito, razão e emoção.

CLAUDIO SINDIQUE

© 2021 Claudio Sindique, Professor, Escritor e Pesquisador- Maputo-Moçambique
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